Brasileiro filma dança rara de ave-do-paraíso na Papua-Nova Guiné
30/07/2025
(Foto: Reprodução) Brasileiro filma dança rara de ave-do-paraíso na Papua-Nova Guiné
Um palco limpo no chão da floresta, uma dança que parece coreografada e um corpo que se transforma em cena: esse é o display da Parotia lawesii, uma das aves-do-paraíso mais enigmáticas do planeta. O ritual completo dessa espécie endêmica da Papua-Nova Guiné foi registrado em vídeo pelo biólogo brasileiro Gabriel Leite, que passou dias imerso na floresta tropical até conseguir realizar o sonho de uma vida inteira.
“Foi surreal. Eu já tinha visto em documentários, mas ver ao vivo foi algo que me tirou o fôlego. Parece que o bicho se transforma na frente dos seus olhos”, conta Gabriel, que trabalha há mais de 20 anos com aves e vida selvagem. Ele gravou o vídeo em julho deste ano, durante uma viagem de campo ao país.
O registro só aconteceu após um longo dia de espera. O biólogo saiu ainda de madrugada da pousada onde estava hospedado e seguiu até a região do display, que havia sido recentemente mapeada por moradores locais. Ali, por volta das 6h30 da manhã, ele foi deixado em um pequeno esconderijo - a cerca de 10 metros do "palco" onde o macho costuma dançar para atrair as fêmeas. E então, esperou. E esperou.
“Passei o dia inteiro ali. Nada. Quase desisti. Depois de cerca de oito horas em determinado momento levantei para esticar o corpo e, quando olhei de novo, ele já estava lá. Limpando as folhas do chão antes de começar a apresentação. Meu coração disparou”.
O registro
O vídeo mostra o momento em que o macho inicia a dança, erguendo penas metálicas ao redor da cabeça, como uma coroa flutuante, e abrindo o corpo em movimentos rápidos e hipnóticos. Segundo o biólogo, a performance não acontece de qualquer jeito: o local é cuidadosamente escolhido e limpo pela ave, que retira folhas caídas todas as manhãs antes de começar a dançar.
Ave-do-paraíso é rara e arisca, sendo dificilmente registrada
Gabriel Leite
Apesar de algumas espécies do gênero Parotia já terem sido registradas anteriormente, os vídeos do display da Parotia lawesii, também chamada de parótia-de-cauda-curta ainda são raríssimos. “Ela é extremamente arisca e sofre com a caça para alimentação e uso de penas em adornos culturais. Além disso, o acesso ao habitat é difícil, e o comportamento exige um preparo longo de observação e camuflagem”, explica Gabriel.
No ritual, o macho dança sozinho. Fêmeas podem se aproximar para observar discretamente, geralmente ocultas na vegetação. Caso se interessem pela dança, voltam em outro momento - ou não.
“Cada detalhe tem um papel: as penas iridescentes na garganta, os fios que saem da cabeça, o movimento dos pés. É quase teatral. Ele ensaia antes, limpa o palco, e só dá o show completo se perceber que tem uma espectadora por perto”, descreve.
Sonho antigo, conquista solitária
Desde jovem, Gabriel acompanhava documentários sobre as aves-do-paraíso. Mas a Parotia lawesii sempre se destacou em sua memória. “É uma espécie que parecia inalcançável. Muito rara, num lugar de difícil acesso. Quando me vi ali, naquele esconderijo, e percebi que ia acontecer, foi uma sensação que não dá pra explicar. Tive que segurar as lágrimas”.
Biólogo registrou outras aves-do-paraíso na mesma viagem pela Papua-Nova Guiné
Ele estava sozinho no momento do registro. “A tremedeira tomou conta. Mas eu precisava manter a calma para não perder a imagem. A terceira tentativa de dança foi a que consegui captar melhor — e mesmo não estando de frente, já foi mágica”.
O que vem depois
Com esse registro único na bagagem, Gabriel agora se prepara para outro sonho: observar um urso-polar na natureza. Em outubro, ele embarca para o Canadá em busca do maior mamífero terrestre do planeta. Mas, por enquanto, ainda saboreia o feito mais recente.
“Depois de tantos anos esperando por esse momento, é como tirar um peso das costas. Ver a Parotia lawesii dançando foi o ápice da minha trajetória até agora”.
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